Uma Realidade Ausente: Casa em Jean Mermoz (1956-1961-1992-201?)

Autor: Igor Fracalossi

A Casa em Jean Mermoz já não existe física e materialmente; foi demolida no ano de 1992. Desde sua construção, em 1961, até seu desaparecimento foi muito pouco conhecida, enquanto que tanto suas generatrizes como suas filiações diretas
sobretudo estasassim foram em grande medida. Suasgeratrizes: os projetos que não conseguiram ser concretizados do Instituto de Arquitetura de Valparaíso.Suas filiações: a Cidade Aberta, em Ritoque, e suas obras construídas. A Casa em Jean Mermoz é, de fato,a primeira obra do Instituto a se constituir materialmente.
Em seu processo de constituição mental e material assume um papel determinante o modo de projetar, oqual se inicia antes, percorre todo o tempo de construção, em movimentos de ida e volta, ensino e aprendizagem, proposição e observação, e se completa depois de concluída a obra. Projeto e construção se confundem, ao ponto de se fundirem num só processo.A casa, não obstante, é una obra inexistente, uma realidade ausente. O que impossibilita qualquer enfrentamento sensível à matéria. O Arquivo Histórico José Vial Armstrong, conserva um vasto e rico acervo sobre a Casa em Jean Mermoz, doado pela família de Fabio Cruz há pouco aproximadamente dois anos. Entre os grupos de materiais, um se mostrou de maior interesse. Corresponde à carta de Fabio Cruz destinada a Godofredo Iommi, Francisco Méndez e Miguel Eyquem, parcialmente transcrita e publicada na revista ARQ número 16. A carta não é, segundo Fabio, um diário. Como dito por ele, não se seguiu “nenhuma ordem cronológica, nem de nenhuma espécie”. Não obstante, a Carta a Godo, Pancho e Miguel percorre todo o processo construtivo-projetual da obra. Se vive através dela outro modo de projetar, longedo improviso, mas ao contrário, aberto a receber os câmbios sem desvirtuar sua identidade. Na Casa em Jean Mermoz, em seu obrar, se abre uma nova dimensão projetual para a construção, um novo modo de materializar a arquitetura, quase oposta ao projeto total e definitivo; porém perdido no passardos anos, somente mantido, em certo grau, nas obras do Instituto de Arquitetura de Valparaíso e outraspoucas exceções. Torna-se outra realidade ausente, formadora daquela realidade ausente: a própria casa.

En: IV Seminario DOCOMOMO Sul, Porto Alegre.

Uma Realidade Ausente: Casa em Jean Mermoz (1956-1961-1992-201?)